Faculdade Orgânica
Como muitos da minha idade, cresci convivendo com primos e amigos, passávamos boa parte do tempo na rua ou nas casas um do outro. Final de semana ou nas férias a rua era nosso “condomínio”, com uma única área comum a “calçada”.
Velhas brincadeiras eram o que nos socializavam, uma bola exercia as mais variáveis regras, skate ou bicicleta eram o luxo da época. Mas tudo era de todos.
No meio das brincadeiras, uma pausa para o lanche na casa de uma tia. Bolinhos de chuva, pipoca, focaccia, pão com manteiga, chá gelado, suco ou “ki-suco”.
Vida simples e de forma simples, apreendemos que a empatia era aquilo que absorvemos da emoção do outro.
Tudo podia ser emprestado ou trocado sem a interferência dos mais velhos, afinal tudo tinha pouco valor material, mas muito valor emocional. Brinquedos, roupas, alimentos, etc.
Posso dizer que nessa época foi a primeira faculdade que cursei. Para não dizer que fui formado na rua, digo que me formei na Faculdade Orgânica. Mas como foi impactante essa faculdade na minha vida.
Apreendi a pensar na necessidade do outro, porque todos estávamos na mesma situação. Relações alinhadas pela vulnerabilidade e convivência. Absorvemos naturalmente conceitos morais, éticos e religiosos. A família se fazia presente e era fortalecida.
Hoje somos impelidos a criar nossos filhos para serem desconfiados, egoístas, solitários e suficientes. Acreditamos que o auto nível na formação escolar e profissional poderá trazer a felicidade dos nossos filhos.
Por medo, preferimos nos munir de coisas caras e agendas apertadas na ilusão da proteção. Nossas “redes sociais” disseminam e colaboram para essa armadilha. A verdadeira rede social estava nas ruas do nosso passado.
Então como ensinar aos nossos filhos que a felicidade está perto? Que ela é factível e está nas coisas simples? Como fazer o caminho de volta em nossos condomínios de hoje.
Autor: Marcelo Mahtuk, diretor executivo da Manager.
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